quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Indumentária Gaúcha



Traje Indígena - 1620 à 1730

Índios Missioneiros: (Tapes, Gês-guaranizados): Os Missioneiros se vestiam, conforme severa moral jesuítica. Passaram a usar os calções europeus e em seguida a camisa. Usavam, ainda, uma peça de indumentária não européia, proximamente indígena, o pala bichará. Essa peça de indumentária não existia no Rio Grande do Sul antes da chegada do branco, pois os índios pré-missioneiros não teciam e nem fiavam.

Índios Cavaleiros: ( Mbaias, Charruas, Minuanos, Yarós..): Usavam duas peças de indumentária absolutamente originais: o "chiripá" e o "cayapi". O chiripá era uma espécie de saiaO cayapi dos minuanos era um couro de boi, inteiro e bem sovado (que se usava às costas) com o pêlo para dentro e carnal para fora, pintado de listras verticais e horizontais, em cinza e ocre. À noite, servia de cama

A mulher missioneira usava comumente o “tipoy”, longo vestido formado por dois panos costurados entre si, deixando apenas sem costurar duas aberturas para os braços e uma para o pescoço. Na cintura, era apertado por uma espécie de cordão, chamado “chumbé”. O chiripá era, então uma espécie de saia, constituída por um retângulo de pano enrolado da cintura até os joelhos.

Traje Gaúcho - 1730 à 1820
Patrão das Vacarias e Estancieira Gaúcha:O primeiro caudilho riograndense, tinha mais dinheiro e se vestia melhor. Foi o primeiro estancieiro. Trajava-se basicamente à européia, com a braga e as ceroulas de crivo. Passou a usar também a bota de garrão de potro, invenção gauchesca típica. Igualmente o cinturão-guaiaca, o lenço de pescoço, o pala indígena, a tira de pano prendendo os cabelos, o chapéu de pança de burro.
A mulher desse rico estancieiro, usava botinas fechadas, meias brancas ou de cor, longos vestidos de seda ou veludo, mantilha, chale ou sobrepeliz, grande travessa prendendo os cabelos enrolados e o infaltável leque.

Peão das Vacarias e China das Vacarias:
O traje do peão das vacarias destinava-se a proteger o usuário e a não atrapalhar a sua atividade - caçar o gado e cavalgar. Normalmente, este gaúcho só usava o chiripá primitivo e um pala enfiado na cabeça. Camisa, quando contava com uma, era de algodão branco ou riscado, sem botões, apenas com cadarços nos punhos, com gola imensa e mangas largas.
As botas mais comuns eram as de garrão-de-potro, que eram retiradas de vacas, burros e éguas.
O peão das vacarias não era de muito luxo. Só usava ceroulas de crivo nas aglomerações urbanas. Andava mais de pernas nuas como os índios. À cabeça, usava a fita dos índios, prendendo os cabelos - que os platinos chamam "vincha" - e também o lenço, como touca, atado à nuca.
O chapéu, quando usava, era de palha (mais comum), e de feltro, (mais raro), e talvez o de couro cru, chamado de "pança-de-burro", feito com um retalho circular da barriga do muar, moldado na cabeça de um palanque.
A mulher vestia-se pobremente: nada mais que uma saia comprida, rodada, de cor escura e blusa clara ou desbotada com o tempo. Pés e pernas descobertas, na maioria das vezes. Por baixo, apenas usava bombachinhas, que eram as calças femininas da época.


Trage Gaúcho - 1820 á 1865
Gaúcho Farroupilha e Mulher Gaúcha:
O período histórico dominado por um novo tipo de chiripá que substitui o anterior de forma de saia. Este obviamente não era adequado à equitação, mas sim a típica indumentária do pedestre, feita para o homem que anda a pé. O chiripá dessa nova fase é em forma de grande fralda, passada por entre as pernas. Este adapta-se bem ao ato de cavalgar e essa é certamente a explicação para o seu aparecimento.As botas são ainda a bota forte, comum, a bota russilhona e a bota de garrão, inteira ou de meio-pé. As longas ceroulas são enfiadas no cano da bota ou, quando por fora, mostram nas extremidades cirvos, rendas e franjas. À cintura, faixa preta e guaiaca, de uma ou duas fivelas. Camisa sem botões, de gola e mangas largas. Jaleco, de lã ou mesmo veludo, e às vezes a jaqueta, com gola e manga de casaco, terminando na cintura, fechada à frente por grandes botões ou moedas. Ao pescoço, lenço de seda, já nas cores mais populares – o branco e o vermelho. Mas muitas vezes em outras cores e com padronagem enxadrezada. Em caso de luto – preto. Com luto aliviado, preto com “petit-pois”, carijó ou xadrez de preto e branco. Aos ombros, pala, bichará ou poncho. À cabeça, a fita dos índios ou o lenço amarrado à pirata e, se for o caso, chapéu de feltro com aba rasteira e copa alta, ou chapéu de palha, sempre presos por barbicacho. Os cabelos do gaúcho, durante muito tempo, foram compridos, tipo índio. Havia quem os trançasse atando as pontas com fitas, o mesmo que as chinas.
A mulher nesta época popularizou um tipo de indumentária na base da saia e casaquinho com discretas rendas e enfeites. Tinham as pernas cobertas com meias, salvo na intimidade do lar. Usavam cabelo solto ou trançado, para as solteiras e em coque para as senhoras. Os sapatos eram fechados e discretos. Como jóias apenas um camafeu ou broche. Ao pescoço vinha muitas vezes o fichú (triângulo de seda ou crochê, com as pontas fechados por um broche). Esse foi o traje padrão da mulher do Rio Grande do Sul nessa época.


Traje Gaúcho - 1965 até hoje
Gaúcho atual e Prenda Tradicionalista:
A bombacha surgiu com os turcos e veio para o Brasil usada pelos pobres na Guerra do Paraguai. Até o começo do século, usar bombachas em um baile, seria um desrespeito. O gaúcho viajava à cavalo, trajando bombachas e trazia as calças "cola fina", dobradas em baixo dos pelegos, para frisar.À cintura o fronteirista usa faixa; o serrano e planaltense dispensam a mesma e a guaiaca da Fronteira é diferente da serrana, por esta ser geralmente peluda e comcoldre inteiriço.
A camisa é de um pano só, no máximo de pano riscado. Em ambiente de maior respeito usa-se o colete, a blusa campeira ou o casaco.O lenço do pescoço é atado por um nó de oito maneiras diferentes e as cores branco e vermelho são as mais tradicionais Usa-se mais freqüentemente o chapéu de copa baixa e abas largas, podendo variar com o gosto individual do usuário, evitando sempre enfeites indiscretos no barbicacho. Por convenção social o peão não usa chapéu em locais cobertos, como por exemplo no interior de um galpão.As esporas mais utilizadas são as "chilenas", destacando-se ainda as "nazarenas".Botas, de sapataria preferencialmente pretas ou marrons.Para proteger-se da chuva e do frio usa-se o poncho ou a capa campeira e do calor o poncho-pala. Cita-se ainda o bichará como proteção contra o frio do inverno.

Obs: O preto é somente usado em sinal de luto. O tirador deve ser simples, sem enfeites, curtos e com flecos compridos na Serra, de pontas arredondadas no Planalto, comprido com ou sem flecos na Campanha e de bordas retas com flecos de meio palmo na Fronteira.É vedado o uso de bombacha com túnica tipo militar, bem como chiripás por prendas por ser um traje masculino.
A indumentária da prenda é regulamentada por uma tese de autoria de Luiz Celso Gomes Yarup, que foi aprovada no 34º. Congresso Tradicionalista Gaúcho, em Caçapava do Sul:
01 - O vestido deverá ser, preferencialmente, de uma peça, com barra da saia no peito do pé;
02 - A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas é livre;
03 - O vestido pode ser de tecido estampado ou liso, sendo facultado o uso de tecidos sintéticos com estamparia miúda ou "petit-pois";
04 - Vedado o decote;
05 - Saia de armar: quantidade livre (sem exageros);
06 - Obrigatório o uso de bombachinhas, rendadas ou não, cujo comprimento deverá atingir a altura do joelho;
07 - Mangas até os cotovelos, três quartos ou até os pulsos;
08 - Facultativo o uso de lenço com pontas cruzadas sobre o peito, também facultado o uso do fichu de seda com franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu, ou ainda do chale;
09 - Meias longas brancas ou coloridas, não transparentes;
10 - Sapato com salto 5 (cinco), ou meio salto, que abotoe do lado de fora, por uma tira que passa sobre o peito do pé;
11 - Cabelo solto ou em trança (única ou dupla), com flores ou fitas;
12 - Facultado o uso de brincos de argola de metal. Vedados os de fantasia ou de plásticos;
13 - Vedado o uso de colares;
14 - Permitido o uso de pulseiras de aro de qualquer metal. Não aceitas as pulseiras de plástico;
15 - Permitido o uso de um anel de metal em cada mão. Vedados os de fantasia;
16 - É permitido o uso discreto de maquiagem facial, sem batons roxos, sombras coloridas, delineadores em demasia;
17 - Vedado o uso de relógios de pulso e de luvas;
18 - Livre a criação dos vestidos, quanto a cores, padrões e silhuetas, dentro dos parâmetros acima enumerados.

Referências:

http://sites.google.com/site/orgulhodesergaucho2009/indumentaria-ga
http://www.vivernocampo.com.br/tradicoes/indumentaria2.htm
http://www.sougaucho.com.br/gaucho/traje1965_atehoje.htm

Poesias

Que diacho! Eu gostava do meu cusco
Autoria:Odilon Ramos

Entendo. Envelheci entendendo.
Bicho não tem alma, eu sei bem,
mas será que vivente tem?

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Era uma guaipeca amarelo,
baixinho, de perna torta,
que me seguiu num domingo,
de volta de umas carreira.

Eu andava meio abichornado,
bebendo mais que o costume,
essas coisa de rabicho, de ciúme,
vocês me entendem, ele entendeu.

Passei o dia bebendo
e ele ali no costado
me olhando de atravessado,
esperando por comida.

Nesse tempo era magrinho
que aparecia as costela.
Depois pegou mais estado
mas nunca foi de engordá.

Quando veio meu guisado,
dei quase tudo prá ele.
Um pouco, por pena dele,
e outro, que nesse dia,
só bebida eu engolia
por causa dos pensamento.

Já pela entrada do sol,
ainda pensando na moça
e nas miséria da vida,
toquei de volta prás casa
e vi que o cusco magrinho
vinha troteando pertinho,
com um jeito encabulado.

Volta prá casa, guaipeca!
Ralhei e ralhei com ele.
Parava um puco, fugia,
farejava qualquer coisa,
depois voltava prá mim.
O capataz não gostou,
na estância só tinha galgo,
mas o guaipeca ficou.

Botei o nome de sorro,
as crianças, de brinquinho,
mas o nome que pegou
foi de guaipeca amarelo.

Mas nome não é o que importa.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Ficou seis anos na estância.
Lidava com gado e ovelha
sempre atento e voluntário.
Se um boi ganhava no mato,
o guaipeca só voltava
depois de tirá prá fora.

E nunca mordeu ninguém!
Nem as índia da cozinha
que inticava com ele.
Nem ovelha, nem galinha,
nem quero-quero, avestruz.
Com lagarto, era o primeiro
e mesmo piquininho
corria mais do que um pardo.

E tudo ia tão bem...
Até que um dia azarado
o patrãozinho noivou
e trouxe a noiva prá estância.

Era no mês de janeiro,
os patrão tava na praia,
e veio um mundo de gente,
tudo em roupa diferente,
até colar, home usava,
e as moça meio pelada,
sem sê na hora do banho,
imagino lá no arroio,
o retoço da moçada.

Mas bueno, sou doutro tempo,
das trança e saia rodada,
até aí não tem nada,
que a gente respeita os branco,
olha e finge que não vê.
O pior foi o meu cusco,
que não entendeu, por bicho,
a distância que separa
um guaipeca de peão
da cachorrinha mimosa
da noiva do meu patrão.

Era quase de brinquedo
a cachorrinha da moça.
Baixinha, reboladera,
pêlo comprido e tratado,
andava só na coleira
e tinha medo de tudo,
por qualquer coisa acoava.

Meu cusco perdeu o entono
quando viu a cachorrinha.
E les juro que a bichinha
também gostou do meu baio.
Mas namoro, só de longe
que a cusca era mais cuidada
que touro de exposição.

Mas numa noite de lua,
foi mais forte a natureza.
A cadela tava alçada
e o guaipeca atrás dela
entrou por uma janela
e foi uma gritaria
quando encontraram os dois.

Achei graça na aventura,
até que chegou o mocito,
o filho do meu patrão,
e disse prá o Vitalício
que tinha fama de ruim:
Benefecia o guaipeca
prá que respeite as família!
Parecia até uma filha
que o cusco tinha abusado.

Perdão, le disse, o coitado
não entende dessas coisa.
Deixe qu'eu leve prá o posto
do fundo, com meu cumpadre,
depois que passá o verão.
Capa o cusco, Vitalício!
E tu, pega os teus pertence
e vai buscá teu cavalo.

Me deu uma raiva por dentro
de sê assim despachado
por um piazito mijado
e ainda usando colar.
Mas prometi aqui prá dentro:
mesmo filho do patrão,
no meu cusco ninguém toca.
Pego ele, vou m'embora
e acabou-se a função.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Campiei ele no galpão,
nos brete, pelas mangueira
e nada do desgraçado.
No fim, já meio cansado,
peguei o ruano velho
e fui buscá o meu cavalo.

Com o tordilho por diante,
vinha pensando na vida.
Posso entrá numa comparsa,
mesmo no fim das esquila.
Depois ajeito os apero
e busco colocação,
nem que seja de caseiro,
se nã me ajustam de peão.
E levo o cusco comigo
pois foi o único amigo
que nunca negou a mão.

Nisso, ouvi a gritaria
e os ganido do meu cusco
que era um grito de susto,
de medo, um grito de horror.
Toquei a espora no ruano
mas era tarde demais.
Tinham feito a judiaria
e o pobrezinho sangrava,
sangrava de fazê poça
e já chorava fraquinho.

Peguei o cusco no colo
e apertei o coração.
O sangue tava fugindo,
não tinha mais esperança.
O cusco foi se finando
e os meus olho chorando,
chorando como criança.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?
Nessa hora desgraçada
o tal mocito voltou
prá sabê pelo serviço.
Botei o cusco no chão,
passei a mão no facão
e dei uns grito com ele,
com ele e com o Vitalício!

Ele puxô do revólver
mas tava perto demais.
Antes que a bala saísse,
cortei ele prá matá.
Foi assim, bem direitinho.
Não tô aqui prá menti.
É verdade qu'eu fugi
mas depois me apresentei.
Me julgaram e condenaram
mas o pior que assassino,
foi dizerem que o motivo
era pouco prá o que fiz...

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?




Remorsos de Castrador
Autoria: Jayme Caetano Braun


Um pealo - um tombo - grunhidos
de impotente rebeldia,
o sangue da cirurgia
No laço e no maneador.
Nada pra tapear a dor
do potro que --- sem saber,
perdeu a razão de ser
na faca do castrador.

Há um bárbara eficiência
nessa rude medicina,
a faca é limpa na crina
que alvoroçada revoa,
pouco interessa que doa,
a dor faz parte da vida.
Há de sarar em seguida,
desde guri tem mão boa.

Aprendeu --- nem sabe como,
a estancar uma sangria.
Sem noções de anatomia
é um cirurgião instintivo
que --- por vezes --- pensativo,
afundou na realidade
da crua barbaridade
desse ritual primitivo.

Já faz tempo --- muito tempo,
que um dia --- na falta doutro,
castrou seu primeiro potro,
um zaino negro tapado.
Que pena vê-lo castrado,
o entreperna coloreando
e os olhos recriminando,
num protesto amargurado.

Depois do zaino --- um tordilho,
depois --- baios e gateados,
um por um sacrificados
pela faca carneadeira
e o rude altar da mangueira
a pedir mais sacrifícios
dos bravos fletes patrícios,
titãs de campo e fronteira.

Por muitos e muitos anos
andou nos galpões do pampa,
castrando pingos de estampa
com renomada experiência,
cavalos reis de querência,
parelheiros afamados,
pela faca condenados
a morrer sem descendência.

Às vezes, durante a noite,
um pesadelo o volteia
e o remorso paleteia.
Castrador!... que judiaria!
E quando sem serventia
por aí deixar semente
no mundo onde há tanta gente
pedindo essa cirurgia.

E ali está --- defronte ao rancho,
pastando o mouro do arreio,
pingo de campo e rodeio
que castrou --- quando potrilho.
O mouro --- mesmo que filho
do xirú velho campeiro,
o último companheiro
do seu viver andarilho.

Na primavera --- outro dia,
um potranca lazona,
linda como temporona,
vestida em pelagem de ouro,
veio se esfregar no mouro,
mordiscando pelo e crina,
mais amorosa que china
num princípio de namoro!

E o mouro? --- pobre do mouro!
Não pode ter namorada.
Veio, direto à ramada,
numa agonia sem fim,
olhando pro dono, assim,
num bárbaro desespero,
como dizendo: parceiro,
vê o que fizeste de mim!!

Amargo
Autoria: Jayme Caetano Braun

Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!

Galo de Rinha
Autoria: Jayme Caetano Braun

Valente galo de rinha,
guasca vestido de penas!
Quando arrastas as chilenas
No tambor de um rinhedeiro,
No teu ímpeto guerreiro
Vejo um gaúcho avançando
Ensangüentado, peleando,
No calor do entreveiro !

Pois assim como tu lutas
Frente a frente, peito nu.
Lutou também o chiru
Na conquista deste chão...
E como tu sem paixão
Em silêncio ferro a ferro,
Cala sem dar um berro
De lança firme na mão!

Evoco neste teu sangue
Que brota rubro e selvagem.
Respingando na serragem,
Do teu peito descoberto,
O guasca de campo aberto,
De poncho feito em frangalhos.
Quando riscava os atalhos
Do nosso destino incerto!

Deus te deu , como ao gaúcho
Que jamais dobra o penacho,
Essa de altivez de índio macho
Ques ostentas Já quando pinto:
E a diferença que sinto
E que o guasca bem ou mal!
Só lutas por um ideal
E tu brigas pôr instinto!

Pôr isso é que numa rinha
Eu comtigo sofro junto,
Ao te ver quase defunto.
De arrasto , quebrado e cego,
Como quem diz Não me entrego:
Sou galo, morro e não grito
Cumprindo o fado maldito
Que desde a casca eu carrego!

E ao te ver morrer peleando
No teu destino cruel.
Sem dar nem pedir quarteu.
Rude gaúcho emplumado.
Meio triste , encabulado,
Mil vezes me perguntei
Pôr que é que não me boleei
Pra morrer no teu costado?

Porque na rinha da vida
Já me bastava um empate!
Pois cheguei no arremate
Batido , sem bico e torto ..
E só me resta o conforto
Como a ti, galo de rinha
Que se alguem me
dobrar - me a espinha
Há de ser depois de morto!

Carta Aberta Ao Guri Que Fui
Autoria: Moises Silveira de Menezes


Quando vim de lá, trouxe quase tudo,
tudo que cabia na velha mala sebruna
e nos anseios de horizontes largos.
Ficou um potro cabos negros
ausentado de quem cavalgava
"alpedo",ao sabor dos ventos.
Ficaram os meus tão queridos
que ainda hoje, povoam meus recuerdos
junto a outras tantas bem querenças
que me foram acrescidas pela estrada.
Ficou um amor não resolvido eternizado
em sonetos tolos e ingênuos.

Fui guri plantado a beira do rio
onde a prata dos lambaris
cintilava ao ouro-sol do verão,
bailando ágeis pelas corredeiras,
emolduradas de aguapés e sarandis.
Na retina guardei imagens
de malmequeres desfoihados,
o gosto doce das frutas silvestres,
o aroma de anis e maçanilha
que compuseram sutil sinfonia
criando contornos às próprias ausências
e aconchegando as minhas distâncias.

Aos torvelinhos se intercalam na lembrança
lentas imagens da paisagem da querência,
capões de mato enclausurando centenárias casas
onde dormitam amarelados retratos nas paredes
como guardiões de uma história meio bruta
perenizada na dureza dos relatos.
Rios preguiçosos onde se espelham cerros grandes
e costeiros fantasmas perambulam
na boca larga dos causos e das lendas.
Deste cenário eu vim, partido, repartido
ombreando o fado de moldar sonho e destino
ao som longínquo de um clarim em retirada.

Hoje tenho certeza, que não vim de todo
ficou uma parte, partida, vagando
nos campos floridos da infância
talvez por isso, vez por outra
volte a pequena e plácida cidade,
esculpida no alto da coxilha
entre a Serra Geral e o Planalto,
busco elos, peças em falta
no intricado quebra-cabeças
que paciente e perseverante
vou montando ao longo dos dias,
para entender donde vim e pra onde vou.

Me reencontro em parte, aos poucos
quando o disperso imaginário
me transporta em fantasia,
olhar sonhador, plasmado
na frágil e grácil silhueta
da professorinha da escola rural
que serena e mansamente
desfiava contas e contos,
talvez sem se dar conta
de um amor primeiro e singular
que aprisionou-se nos subconsciente dos funções
para renascer ao ensejo de lembranças fugazes.

Por isso à noite quando o sol se põe
e a lua branda se recorta ao céu
dou asas longas a meus devaneios.
Despacito vou me enfurnando "lejo"
no campo largo das reminiscências
onde vagueiam inocentes pirilampos.
Campeio um jeito de volver atrás,
junto coragem pra rever estragos
que cimentaram no caminho andado,
pois, só um rosto numa foto antiga
amarfanhada no desalinho das gavetas
liga o real e o meu faz de conta.

Se eu não voltar para ficar, contudo
viverei poetando esta saudade linda
que acalma a dor e aproxima os longes,
mas, volta e meia, inverterei o rumo
trançando estradas como um peregrino,
buscando imagens, gestos, paisagens
que amenizem o passar dos anos.
Jogarei linhas de espera nos remansos,
irei a escola ver se alguém desfia
contos e contas como antigamente
e ao retomar terei certeza, enfim,
haver encontrado o guri que fui.

Um Canto Para Matear Solito
Autoria: Moises Silveira de Menezes

Quando o sol vai despacito
me quedo mateando quieto
no velho ritual campeiro
que faz ausentes de afeto
buscar refúgio no amargo,
vida verde, vida em pó
rico ancestral lenitivo
parceiro dos que andam só.

A lua vem debruçar-se
no portal da solidão
em tênues raios de prata
clareando o velho galpão,
fresteando as paredes velhas
chegam as vozes da noite
que a meus ouvidos cansados
trazem sibilos de açoite.

A cuia passeia inquieta
como se ave noturna
que risca olhos punhais
na ampla noite soturna,
só o chispar das labaredas
aos grilos em contracanto
compõe mais uma milonga
pra um mundo de desencantos.

O mate desce queimando
na gargante ressequida
parece que nessa noite
nem Caá-Yari dá guarida
a quem cansou do caminho
e de partir sem chegar
fez da vida uma tapera
na velha sina de andar.

Uma saudade importuna
amarga mais esse mate
descompassa tanto o peito
que o coração pouco bate,
aquerenciou-se essa louca
sem ter convite pra vir
que até nem sei se é bom ter
saudade ou não pra sentir.

Uma inquietude interior
que faz a noite silente,
o sonho muito distante
como se estrela cadente,
me gusta um mate solito
nesse esperar não sei que;
saber de andar o sentido
talvez, da vida o porquê.

Alma Gaudéria
Rômulo Morales

Os rasteadores da História
campearam minha memória,
do tempo nas noites grandes,
e me encontraram na Taba,
nos araxás do ameraba
da cordilheira dos Andes!

Dos séc'los na densa bruma,
a minha origem se esfuma!
Sou alma xucra e gaudéria
que vem de tempos sem fim!
Ninguém sabe de onde eu vim,
se de Atlântida ou Sibéria!

Talvez fosse um lemuriano,
guardasse n'alma o arcano
da legendária Lemúria -
minha primeira Querência,
tragada pela violência
de cataclismos em fúria!

Talvez malaio, autraliano,
ou mongol, ou tasmaniano,
antes de vir para a América!
Sou, hoje, o guasca sulino
mestiço com beduíno
lá da Península Ibérica!

Sou mescla de vários sangues!
Dos temidos Caingangues
sinto a fibra em minha raça!
Destas coxilhas sou filho,
cruza de branco caudilho
com ameríndia lindaça!

Fui Charrua e Minuano!
Enfrentei o lusitano
nos campos de Caiboaté!
Na região missioneira,
iluminei a fronteira
nas guerrilhas de Sepé!

Fui guerreiro, andei lutando...
Surgi mil vezes peleando,
mil vezes tombei na guerra,
eternizando na história,
numa legenda de glória,
as tribos de minha Terra!

Marquei, com sangue estrangeiro,
deste Torrão Brasileiro
as fronteiras que ele tem!
E nelas, qual marco vivo,
deixei meu sangue nativo,
as demarcando também!

E se alguém, num dia aziago,
quiser tomar este pago,
ser das coxilhas monarca,
há de sentir pelo lombo,
no impacto de cada tombo,
que nossa Terra tem marca!


Negrinho do Pastoreio
Autoria: Jayme Caetano Braun

Quando de noite transito
No meu gauderiar andejo,
Me paleteia o desejo
De encontrar-te, duende amigo,
Pois sei que trazes contigo,
Negrinho esmirrado e feio,
O Rio Grande em pastoreio
No sinuelo do passado,
E que ali, no descampado
Que a luz da vela clareia,
O teu vulto esguio, bombeia,
Como Deus de rito estranho,
A gauchada de antanho
Que se perdeu na peleia!

Juntos iremos lembrar
Aquele maula estancieiro,
Que ao botar num formigueiro
O teu corpo de criança,
Cravou bem fundo uma lança
No próprio ser do rincão;
Trazer a recordação,
Aquela velha tropilha,
Que do topo da coxilha
Esparramou-se a lo léu,
Para juntar-se no céu
Contigo e Nossa Senhora,
E hoje cruza, noite a fora,
No meio dum fogaréu!

Hás de contar-me o que viste
Na tua ronda infinita,
Desde a povoação jesuíta
Ao reduto Guaiacurú,
Quando Sepé Tiaraju
Morrendo de lança em punho,
Dava um guasca testemunho
Da fibra continentina,
E quando, nesta campina,
O velho pendão farrapo
Cruzava altaneiro e guapo
Como uma benção divina!

Dizem que trazes por diante
Dos fletes que pastorejas,
Assombrações malfazejas
Das campanhas do JARAU,
Repontas o fogo mau,
Do andarengo BOITATÁ,
E vagando, ao Deus dará,
Nessa ronda de amargura,
Vives na eterna procura,
Pelas canchas e rodeios,
De prendas, trastes e arreios
Extraviados na planura!

Tu conheces os segredos
De ranchos e cemitérios
Onde paisanos gaudérios
Assinalaram passagem,
Revives cada paragem
Numa evocação singela,
Por entre tocos de vela
De humildes promessas pagas
Onde o S das adagas
Fazia o papel de cruz, -
E onde num raio de luz,
Brilhava sempre a velinha,
Invocando tu'a madrinha
A Santa Mãe de Jesus!

Presenciaste o velho drama
Do gaúcho em formação,
Quando este imenso rincão
Era um selvagem deserto,
Tudo céu e campo aberto
E onde Deus Nosso Senhor
Pós o guasca peleador,
De lança e de boleadeira
E mandou fazer fronteira
Onde quisesse, a lo largo,
Dando o pingo, o mate-amargo
E a china pra companheira!

Por tudo isso é que sofro
Quando altas horas despontas
Entre os fletes que repontas
Num barbaresco tropel,
Lembrando o dono cruel
Que num gesto asselvajado
Te fez cumprir este fado
De andar penando no ermo,
Esperando sempre o termo,
Que tarda tanto em chegar,
E onde haveremos de estar,
Enquadrilhados a grito
Diante do Deus infinito
Que vai por fim nos julgar!

E assim como tu, Negrinho,
Que um dia foste espancado
E por fim martirizado
Num formigueiro do pago,
O meu peito de índio vago
Também sofreu igual sorte,
E hoje vagueia, sem norte,
Sem fugir, por mais que ande,
Deste formigueiro grande
Onde costumes malditos
Tentam matar aos pouquitos
As tradições do RIO
GRANDE!


GAÚCHO
Antônio Augusto Fagundes

Os moços de Porto Alegre
- escritores, jornalistas,
aqueles que sabem tudo,
ou pensam que sabem tudo...
disseram que já morreste.
Ou então que estás de a pé,
sem cavalo, sem bombacha,
sem bota, espora ou chapéu,
sem comida e sem estudo.

Moços da voz de veludo
e máquinas de escrever
produzidos no estrangeiro
dizem que tu, companheiro,
morreste ou estás mui mal
porque o êxodo rural
te atirou pelas sarjetas
sujo de pó e de barro
catando a toa cigarro
nos becos da capital...

E no entanto, estás vivo!
Estás vivo e trabalhando
e produzindo o que comem
esses moços do jornal.

Quem é gaúcho, afinal?

Tenho pra mim que são três:
um é o peão, o assalariado,
o operário campeiro.
O segundo é o estancieiro,
o empresário rural.
O terceiro é o camponês
que se agüenta bem ou mal
sem ter nem peão nem patrão.
No mais, é um homem solito,
um carreteiro, talvez.

São os homens de a cavalo
que agarram o céu com a mão,
rasgando fronteira e chão,
marcando terneiro a pealo,
bebendo o canto do galo
no alvorecer do rincão.

São três homens diferentes?
No fundo, os três são um só:
mesma fala, mesma roupa,
mesma alma, mesma lida...
Em resumo, mesma vida,
mesmo barro e mesmo pó.

Um mais rico, outro mais pobre.
Prata, ouro, lata ou cobre
que importam, se homem é nobre
e amarra no mesmo nó?

A bombacha que eles usam
tem um século. Cem anos!
Os arreios do cavalo
são muitos mais veteranos:
duzentos anos talvez.
E o chimarrão, o palheiro,
o churrasco, o carreteiro,
o truco a tava, as campeiras,
a gaita, o chote inglês...?
São dos gaúchos passados,
já tinham em 93.

E a mesma mulher gaúcha
inspira cada vez mais.

E a paisagem é sempre a mesma.
Eterna, mas sempre nova.
Do litoral à fronteira,
da serra aos campos neutrais.
Das missões até o planalto
para frente e para o alto
como regiões naturais,
do verde das sesmarias
até o ouro dos trigais
- as duas cores da pátria
que o Rio Grande esparramou
nas plagas meridionais.

Porque o Rio Grande é eterno
como é eterno seu luxo:
tu não morreste, gaúcho,
deixa que falem, no mais.
Deixa que o fraco de sempre
(o fracassado, o vencido)
tente te encerrar no olvido
que o futuro lhe promete.
E que te chamem de Odete
os desfibrados morais:
no lombo do teu cavalo
estás tão alto, tão alto,
que a lama preta do asfalto
não te alcançará jamais!

Meu pai veio da campanha
com a mulher e dez filhos
e veio para abrir trilhos,
foi sempre um homem de bem.
Jamais andou mendigando,
catando lixo nos valos
ou toco pelas sarjetas.
Não se esqueceu das carretas
nem do tranco dos cavalos.

Nasceu e morreu gaúcho.
Trabalhou e foi alguém.

E eu herdei seu evangelho.
Me orgulho daquele velho
- eu sou gaúcho também!


O Meu País

João de Almeida Neto
Composição: João de Almeida Neto

Um país que crianças elimina;
E não ouve o clamor dos esquecidos;
Onde nunca os humildes são ouvidos;
E uma elite sem Deus é que domina;
Que permite um estupro em cada esquina;
E a certeza da dúvida infeliz;
Onde quem tem razão passa a servis;
E maltratam o negro e a mulher;
Pode ser o país de quem quiser;
Mas não é, com certeza, o meu país.

Um país onde as leis são descartáveis;
Por ausência de códigos corretos;
Com noventa milhões de analfabetos;
E multidão maior de miseráveis;
Um país onde os homens confiáveis não têm voz,
Não têm vez,
Nem diretriz;
Mas corruptos têm voz,
Têm vez,
Têm bis,
E o respaldo de um estímulo incomum;
Pode ser o país de qualquer um;
Mas não é, com certeza, o meu país.

Um país que os seus índios discrimina;
E a Ciência e a Arte não respeita;
Um país que ainda morre de maleita, por atraso geral da Medicina;
Um país onde a Escola não ensina;
E o Hospital não dispõe de Raios X;
Onde o povo da vila só é feliz;
Quando tem água de chuva e luz de sol;
Pode ser o país do futebol;
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que é doente;
Não se cura;
Quer ficar sempre no terceiro mundo;
Que do poço fatal chegou ao fundo;
Sem saber emergir da noite escura;
Um país que perdeu a compostura;
Atendendo a políticos sutis;
Que dividem o Brasil em mil brasis;
Para melhor assaltar, de ponta a ponta;
Pode ser um país de faz de conta;
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que perdeu a identidade;
Sepultou o idioma Português;
Aprendeu a falar pornô e Inglês;
Aderindo à global vulgaridade;
Um país que não tem capacidade;
De saber o que pensa e o que diz;
E não sabe curar a cicatriz;
Desse povo tão bom que vive mal;
Pode ser o país do carnaval;
Mas não é, com certeza, o meu país!



terça-feira, 14 de setembro de 2010


Cavalgada da Integração 2o10 Saída de NG rumo a Terra Nova Do Norte 50 Km
Saída 10/09 chegada 12/09

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DICIONÁRIO GAÚCHO

A

Abichornado:adj. Aborrecido, triste, desanimado.

Abrir cancha: Abrir espaço para alguém passar.

A cabresto: Conduzido pelo cabresto; submetido.

Achego: Amparo, encosto, proteção.

Açoiteira: Parte do relho ou rebenque, constituída de tira ou tiras de couro, trançadas ou

justapostas, com a qual se castigaa o animal de montaria ou de tração.

Acolherar: Unir dois animais por meio de uma pequena guasca amarrada ao pescoço; Unir, juntar, com relação a pessoas.

Afeitar: Cortar a barba.

Agregado: Pessoa pobre que se estabelece em terras alheias, com autorização do respectivo dono, sem pagar arrendamento, mas com determinadas obrigações, como sejam cuidar dos rebanhos, ajudar nas lides de campo e executar outros trabalhos.

Água-Benta: Cachaça, destinada a ser bebida ocultamente.
Água-de-cheiro: Perfume, extrato.
A laço e espora: Com muita dificuldade, com muito esforço, vencendo grandes obstáculos.

A la cria: Ao Deus-dará, à aventura. Foi-se a la cria, significa foi-se embora, foi-se ao

Deus-dará, caiu no mundo.

Alambrado: Aramado. Cerca feita de arame para manter o gado nas invernadas ou

potreiros.

A la pucha: Exprime admiração, espanto.

À meia guampa:expr. Meio embriagado, levemente ébrio.
Anca:
s. Quarto traseiro dos quadrúpedes. Garupa do cavalo. O traseiro do vacum.
Aporreado: Cavalo mal domado, indomável, que não se dixa amansar. Aplica-se, também ao homem rebelde.

Arranca-rabo: Discussão acalorada, disputa, bate-boca.

Arreios.s. Conjunto de peças com que se arreia um cavalo para montar.

B

Badana: Pele macia e lavrada que se coloca, na encilha do cavalo de montaria, por cima dos pelegos ou do coxonilho, se houver.

Bagual: Cavalo manso que se tornou selvagem. Reprodutor, animal não castrado.

Baixeiro: Espécie de lã, integrante dos arreios, que põe no lombo do cavalo, por baixo da carona.

Bater as botas:M o r r e r.

Bicheira:s. Ferida nos animais, contendo vermes depositados pelas moscas varejeiras. Para sua cura, além de medicação, são largamente utilizadas as simpatias e benzeduras.

Bidê: s. Mesinha de cabeceira. (Aportuguesado do francês bidet).

Biriva:s. Nome dado aos habitantes de Cima da Serra, descendentes de bandeirantes, ou

aos tropeiros paulistas, os quais geralmente andavam em mulas e tinham um sotaque especial diferente do da fronteira ou da região baixa do Estado. Var.:

beriva, beriba, biriba.

Bolicho: Casa de negócios de pequeno sortimento e de pouca importância. Bodega.
Bolicheiro:
s. Dono de bolicho.
Braça-de-Sesmaria: Media antiga, de superfície, usada no Rio Grande do Sul. A braça-de- sesmaria mede 2,20 m por 6.600,00 ou seja 14.520,00 metros quadrados.

C

Cabresto: Peça de couro que é apresilhada ao buçal para segurar o cavalo ou o muar.
Cachaço:
s. Porco não castrado, barrasco, varrão.
Cacho: A cola, o rabo do cavalo.
Cagaço: Grande susto, medo.
Campo de Lei: Campo de ótima qualidade.
Capão: Diz-se ao animal mal capado; Indivíduo fraco, covarde, vil; Pequeno mato isolado no meio do campo.

Capataz: Administrador de uma estância ou de uma charqueada. Pessoa que nas lides

pastoris, é incumbida de chefiar o pessoal.

Carreira:s. Corrida de cavalos, em cancha reta. Quando participam da carreira mais de

dois parelheiros, esta toma o nome de penca ou califórnia.

Caudilhos. Chefe militar ; Manda-chuva.

Cavalo de Lei: Animal muito veloz, capaz de percorrer duas quadras (264m) em 16

segundos ou menos.

Chalana:s. Lanchão chato.

Chimango: Alcunha dada no Rio Grande do Sul aos partidários do governo naRe volução

de 1929.

China: Descendente ou mulher de índio, ou pessoa de sexo feminino que apresenta alguns dos característicos étnicos das mulheres indígenas; Cabloca, mulher morena; Mulher de vida fácil; Esposa.

Cincha:s. Peça dos arreios que serve para firmar o lombilho ou o serigote sobre o lombo

do animal.

Colhudo:adj.e s. Cavalo inteiro, não castrado. Pastor.; Figuradamente, diz-se do sujeito

valente, que enfrenta o perigo, que agüenta o repuxo.

Cuiudo:adj. e s. O mesmo que colhudo.

Cusco: Cão pequeno, cão de raça ordinária. O mesmo que guaipeca, guaipé.

D

Daga: Adaga, facão.
De vereda: Imediatamente, de momento, de uma vez.
Dobrar o cotovelo: Beber, levantar o copo à boca.
Doma: Ato de domar. Ato de amansar um animal xucro.
Domador: Amansador de potros. Peão que monta animais xucros.

Duro de boca: Diz-se do animal que não obedece à ação das rédeas.

Duro de Pelar: Difícil de fazer, trabalhoso.

E

Embretado: p. p. Encerrado no brete.; Metido em apertos, em apuros, em dificuldades;

enrascado, emaranhado.

Entrevero: Mistura, desordem, confusão de pessoas, animais ou objetos.
Erva-Caúna: Variedade de erva mate de má qualidade, amarga.
Erva-Lavada: Erva já sem fortidão por ter sservido para muitos mates.
Estar com o diabo no corpo: Estar furioso. Estar insuportável.
Estar com o pé no Estribo: Estar prestes a sair.
Estrela-Boieira: Estrela d´alva.
Estribo:
s. Peça presa ao loro, de cada lado da sela, e na qual o cavaleiro firma o pé.
Estropiado: Diz-se o animal sentido dos cascos, com dificuldade de andar, em

consequência de marchas por estradas pedregosas.

F

Facada: Pedido de dinheiro feito por undivíduo vadío, incapaz de trabalhar, que não

pretende restituí-lo.

Facho: O ar livre. Usado na expressão sair do facho.
Fatiota: Conjunto de roupas do homem: calça, colete e paletó.
Fiambre: Alimento para viagem, geralmente carne fria, assada ou cosida.
Fazer a viagem do corvo: Sair e demorar muito a regressar.
Flete: Cavalo bom e de bela aparência, encilhado com luxo e elegância.
Funda: Estilingue, bodoque.

G

Gadaria: Porção de gado, grande quantidade de gado, o gado existente em uma estância ou em uma invernada.

Gado chimarrão: Gado alçado, xucro, sem costeio.

Galpão: Construção existente nas estâncias destinadas ao abrigo de homens e de animais; O galpão característico do Rio Grande do Sul é uma contrução rústica, de regular tamanho, em geral de madeira bruta e parte de terra batida, onde o fogo de chão está sempre aceso. Serve de abrigo e aconchego à peonada da estância e a gualquer tropeiro ou gaudério que dele necessite.

Gato: Bebedeira, porre, embriaguez.

Gaudério:s.e adj. Pessoa que não tem ocupação séria e vive à custa dos outros, andando

de casa em casa. Parasita, amigo de viver à custa alheia.

Graxaim:s. Guaraxaim, sorro, zorro. Pequeno animal semelhante ao cão, que gosta de roer cordas, principalmente de couro cru e engraxadas ou ensebadas, e de comer aves

domésticas. Sai, geralmente, à noite. É muito comum em toda a campanha.

Gringo:s. Denominação dada ao estrangeiro em geral, com exceção do português e do

hispano-americano.

Guaiaca:s. Cinto largo de couro macio, às vezes de couro de lontra ou de camurça,

ordinariamente enfeitado com bordados ou com moedas de prata ou de ouro, que serve para o porte de armas e para guardar dinheiro e pequenos objetos.

Guaipeca:s. Cão pequeno, cusco, cachorrinho de pernas tortas, cãozinho ordinário, vira- lata, sem raça definida. ;Adj. Pequeno, de minguada estatura. ; Aplica-se, também, às pessoas, com sentido depreciativo.

Guapo: Forte, vigoroso, valente, bravo.
Guasca: Tira, corda de couro crú, isto é, não curtido;Homem rústico, forte, guapo, valente.
Guasqueaço:s. Pancada, golpe dado com guasca. Relhaço, relhada, chicotada, chibatada, correada, açoite.

Guri:s. Criança, menino, piazinho, serviçal para trabalhos leves nas estâncias.

H

Há Cachorro na Cancha: Significa que há alguma coisa atrapalhando a execução de

determinado plano.

Haraganear: Andar solto o animal por muito tempo, sem prestar serviço algum.

I

Invernada: Grande extensão de campo cercado. Nas estâncias, geralmente, há diversas

invernadas: para engordar, para cruzamento de raças, etc.

Iguaria:Culinár ia.

J

juiz: Pessoa que julga a chegada dos parelheiros, nas carreiras, em cada laço. O mesmo

que julgador.

Jururu: Cabisbaixo, tristonho, abatido

L

Lábia: Abilidade de conversa.

Légua: Medida itinerária equivalente a 3.000 braças ou 6.600 metros. O mesmo que légua de sesmaria.

M

Maleva: Bandido, malfeitor, desalmado; Cavalo infiel, que por qualquer coisa corcoveia.
Maludo: Cavalo inteiro, garanhão. Diz-se do animal com grandes testículos.
Mangueira:s. Grande curral construído de pedra ou de madeira, junto à casa da estância, destinado a encerrar o gado para marcação, castração, cura de bicheiras, aparte e outros trabalhos.

Manotaço: Pancada que o cavalo dá com uma das patas dianteiras, ou com ambas;

Bofetada: pancada com a mão dada por pessoa.

N

Negrinho: Designação carinhoso que se dá a crianças ou a pessas que se tem afeição.

Num Upa: Num abrir e fechar de olhos; De golpe; Rapidamente.

O

Oigalê: Ezprime admiração, espanto, alegria.

Orelhano: Animal sem marca, nem sinal.

P

Paisano: Do mesmo país; Amigo, camarada.

Palanque:s. Esteio grosso e forte cravado no chão, com mais de dois metros de altura e

trinta centímetros aproximadamente de diâmetro, localizado na mangueira ou curral, no

qual se atam os animais, para doma, para cura de bicheiras ou outros serviços.

Papudo:s.e adj. Indivíduo que tem papo. Balaqueiro, jactancioso, blasonador. O termo é

empregado para insultar, provocar, depreciar, menosprezar outra pessoa, embora esta não tenha papo.

Passar um pito: Repreender, descompor.
Patrão: Designação dada ao presidente de Centro de Tradições Gaúchas.
Patrão-Velho:Deus.
Pelea:
s. Peleja, pugilato, contenda, briga, rusga, disputa, combate, luta entre forças

geligerantes.

Pelear:v. Brigar, lutar, combater, pelejar, teimar, disputar.
Petiço:
s. Cavalo pequeno, curto, baixo.
Piá:
s. Menino, guri, caboclinho.
Piquete:
s. Pequeno potreiro, ao lado da casa, onde se põe ao pasto os animais utilizados

diariamente.

Poncho:s. Espécie de capa de pano de lã, de forma retangular, ovalada ou redonda, com

uma abertura no centro, por onde se enfia a cabeça. É feito geralmente de pano azul, com forro de baeta vermelha. É o agasalho tradicional do gaúcho do campo. Na cama de pelegos, serve de coberta. A cavalo, resguarda o cavaleiro da chuva e do frio.

Potrilho:s. Animal cavalar durante o período de amamentação, isto é, desde que nasce até dois anos de idade. Potranco, potreco, potranquinho.

Q

Queixo-Duro: Cavalo que não obedece facilmente a ação das rédeas.

Quero-Mana: Denominação de antigo bailado campestre, espécie de fandango. Canto

popular executado ao som de viola.

R

Rebenque: s. Chicote curto, com o cabo retovado, com uma palma de couro na

extremidade. Pequeno relho.

Regalo: Presente, brinde.

Relho: Chicote com cabo de madeira e açoiteira de tranças semelhantes à de laço, com um pedaço de guasca na ponta.

Reponte: Ato de tocar por diante o gado de um lugar para o outro.

Repontar:v. Tocar o gado por diante de um lugar para outro.

S

Sair Fedendo: Fugir à disparada.

Sanga:s. Pequeno curso d'água menor que um regato ou arroio.
Selin: Sela própria para uso da mulher.
Sesmaria: Antiga medida agrária correspondente a três léguas quadradas, ou seja a 13.068 hectares. São 3000 por 9000 braças; ou 6.600 por 19.800 metros; ou ainda, 130.680.000 metros quadrados.

Soga:s. Corda feita de couro, ou de fibra vegetal, ou, ainda, de crina de animal, utilizada

para prender o cavalo à estaca ou ao pau-de-arrasto, quando é posto a pastar. ; Corda de couro torcido ou trançado, que liga entre si as pedras das boleadeiras. ; O termo é usado também em sentido figurado.

Surungo:s. Arrasta pé, baile de baixa classe, caroço

T

Taco: Diz-se ao indivíduo capaz, hábil, corajoso. guapo.
Taipa:
s. Represa de leivas, nas lavouras de arroz. || Cerca de pedra, na região serrana.
Taita:
Indivíduo valentão, destemido, guapo.
Tala:
Nervura do centro da folha do jerivá. Chibata improvisada com a tala do jerivá ou

com qualquer vara vlexivel

Talagaço: Pancada com tala. Chicotaço.
Talho:
s. Ferimento.
Tapera:
s. Casa de campo, rancho, qualquer habitação abandonada, quase sempre em

ruínas, com algumas paredes de pé e

algum arvoredo velho. || Adj. Diz-se da morada deserta, inabitada, triste.

Tirador:s. Espécie de avental de couro macio, ou pelego, que os laçadores usam pendente da cintura, do lado esquerdo, para proteger e o corpo do atrito do laço. Mesmo quando não está fazendo serviços em que utilize o laço, o homem da fronteira usa, freqüentemente, como parte da vestimenta, o seu tirador que, por vezes, é de luxo, enfeitado com franjas, bolsos e coldre para revólver.

Tosa:s. Tosquia, toso, esquila.

TRADIÇÃO GAÚCHA: Vocábulos usados no plural, significando o rico acervo cultural e moral do Rio Grande do Sul no campo literário, folclórico, musical, usanças, adagiário, artesanato, esportes e atividades culturais.

Tranco: Passo largo, firme e seguro, do cavalo ou do homem.

Tramposo: Intrometido, trapaceiro, velhaco.

Trem: Sujeito inútil.

Três-Marias:Boleadeiras.

Tronqueira:s. Cada um dos grossos esteios colocados nas porteiras, os quais são providos de buracos em que são passadas as varas que as fecham.

Tropeiro:s. Condutor de tropas, de gado, de éguas, de mulas, ou de cargueiros. Pessoa que se ocupa em comprar e vender tropas de gado, de éguas ou de mulas. Peão que ajuda a conduzir a tropa, que tem por profissão ajudar a conduzir tropas. O trabalho do tropeiro é um dos mais ásperos, pois, além das dificuldades normais da lida com o gado, é feito ao relento, dia e noite, com chuva, com neve, com minuano, com soalheiras inclementes, exigindo sempre dedicação integral de quem o realiza.

U

Uma-de-pé: Uma briga, conflito, luta.
Urupuca: Armadilha para pegar passarinhos; Trapaça.
Usted: Você. Usado só na fronteira.

V

Vacaria: Grande número de vacas; Grande extensão de campo que os jesuítas reservavam

para criação de gado bovino.

Varar: Atravessar, cruzar.

Vareio: Susto, sova, surra, repreensão.
Vaza:
Vez, oportunidade.
Vil:
Covarde, desanimado, fraco.
Vivente:
Pessoa, criatura, indivíduo.

X

Xepa:Co mida.
Xerenga: Faca velha, ordinária.
Xiru: O mesmo que chiru.
Xucro: Diz-se ao animal ainda não domado, bravio arrisco.

Z

Zarro: Incômodo, difícil de fazer, chato.

Zunir: Ir-se apressadamente

Estrutura de um C.T.G. (Centro de tradições Gaúchas)

Estrutura de um C.T.G. (Centro de tradições Gaúchas)

O MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho define Centro de Tradição Gaúcha - CTG como uma sociedade civil, de fins não econômicos, com número ilimitado de sócios e estruturada, inclusive quanto ao simbolismo, de acordo com a forma adotada nas origens do movimento tradicionalista gaúcho, tendo como finalidade a aplicação, em seu âmbito associativo e na sua área de influência, dos princípios e objetivos, publicados na Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho. De acordo com este simbolismo, a estrutura administrativa dos Centros de Tradições Gaúchas obedece à seguinte nomenclatura:
a. A Diretoria, o Conselho e os Departamentos são designados, respectivamente, por:

*
Patronagem
*
Conselho de Vaqueanos
*
Invernadas

b. Os membros da Patronagem (Diretoria) denominam-se:

*
Patrão (Presidente)
*
Capataz (Vice-Presidente)
*
Sota-Capataz (Secretário)
*
Agregado das Pilchas (Tesoureiro)
*
Agregado das Falas (Orador)

c. Os diretores das Invernadas são chamados Posteiros
d. Os conselheiros chamam-se Vaqueanos
e. Os sócios efetivos do sexo masculino são denominados Peões e do feminino Prendas.
f. As reuniões dos Centros de Tradições Gaúchas denominado-as simbolicamente de:

* Charla - Reunião administrativa, especialmente da Patronagem, mas poderá ser aplicada também as do Conselho de Vaqueanos;
* Chimarrão - Reunião de confraternização dos sócios entre si e destes com a Patronagem, que faz uma prestação de contas, informa e dá esclarecimento sobre o andamento das atividades do C.T.G.;
* Chimarrão Festivo - Reunião na forma da alínea anterior, porém acrescida de atividades artístico-culturais, com a participação de convidados especiais ou abertas ao público;
* Ronda - Vigília cívica levada a efeito diariamente, durante as comemorações da Semana Farroupilha, nos locais onde arde a Chama Crioula, complementada, geralmente, com apresentações artísticas e culturais;
* Fandango - Baile animado com música regional gauchesca, em que somente participam das danças pessoas tipicamente trajadas com vestimenta gaúcha;
* Lida - Reunião de trabalho que pode ser geral ou abranger determinados setores como Secretaria, Tesouraria ou Invernada.

g. As excursões oficiais dos Centros de Tradições Gaúchas são designadas por Tropeadas.
h. A pessoa encarregada de zelar pela conservação e manutenção das dependências do C.T.G. é o Peão Caseiro que, se for remunerado, não poderá fazer parte dos órgãos diretivos da entidade.
i. A Condição de Ajuste.

* A Condição de Ajuste simboliza a contratação de um peão pelo patrão da estância e poderá ser adotada, nos Centros de Tradições Gaúchas, como modalidade de promover um sócio de contribuinte a efetivo.
* A Condição de Ajuste se constituirá numa prova, que poderá ser prática ou teórica e versará sobre qualquer tema da cultura gauchesca, inclusive da área campeira, ficando a escolha a critério do candidato.
* A Condição de Ajuste, conforme a natureza da prova escolhida pelo candidato, poderá ser apresentada em festa social ou campeira, em recinto fechado ou ao ar livre.

Oração do Gaúcho

Oração do Gaúcho

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e com licença do Patrão Celestial.
Vou chegando, enquanto cevo o amargo de minhas confidências, porque ao romper da madrugada e ao descambar do sol, preciso camperear por outras invernadas e repontar do Céu, a força e a coragem para o entrevero do dia que passa.

Eu bem sei que qualquer guasca, bem pilchado, de faca, rebenque e esporas, não se afirma nos arreios da vida, se não se estriba na proteção do Céu.
Ouve, Patrão Celeste, a oração que te faço ao romper da madrugada e ao descambar do sol:

"Tomara que todo o mundo seja como irmão!. Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos outros o que não quero para mim".
Perdoa-me, Senhor, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana, de quando em vez, quase se querer, em me solto porteira a fora... Êta potrilho chucro, renegado e caborteiro...mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito!

Ajuda-me, Virgem Maria, primeira prenda do Céu. Socorre-me, São Pedro, Capataz da Estância Gaúcha. Pra fim de conversa, vou te dizer meu Deus, mas somente pra ti, que tua vontade leve a minha de cabresto pra todo o sempre e até a querência do Céu. Amém.


Autor: D. Luiz Felipe de Nadal